Sabemos o quanto é difícil manter um veículo de comunicação,
com pouca propaganda, e sem aceitá-las em troca de afagos. Assim com a Tribuna
Feirense, já pensamos em desistir, mas como nossas despesas são menores, ainda
resistimos.
Fica a nossa torcida para que a Tribuna Feirense volte logo com
suas tão aguardadas edições impressas. Leia na íntegra, o editorial do jornal:
Jornais fecham. As
cidades e o tempo os matam. Morrer de pé, como as árvores, é, no entanto,
melhor do que sobreviver com algemas editoriais e sem compromisso com a
verdade, lema que sempre norteou a Tribuna Feirense.
Jornais, quando
morrem, não mudam a cidade, ou o correr dos fatos, mas encarceram mais um pouco
a liberdade e aniquilam um componente da resistência de um povo. Quando se cala
um jornal, triunfam todos aqueles que escolhem estar do lado errado da notícia
e fragiliza-se a sociedade.
Jornais independentes
são essenciais à vitalidade democrática, à vigilância contra o autoritarismo, o
populismo e os excessos do poder – de qualquer esfera –, que tendem sempre à
arrogância, ao abuso e à sua utilização em benefício próprio.
Jornais são mantidos
por verbas publicitárias públicas, privadas, e, na Tribuna Feirense,
contribuição familiar. A violenta crise e recessão do país, com retração de
todos os provedores, elevou a níveis inaceitáveis esta participação pessoal em
sua manutenção. Poderia passar a cuia de esmoler em algumas instâncias,
peregrinar em gabinetes e prolongar a sobrevida do impresso, mas isso me
imporia limites, e colocaria a notícia sob o jugo dos interesses, algo
inadmissível, já que a independência sempre foi sagrada na redação da Tribuna.
A liberdade de opinião
dos colunistas e das matérias, o interesse obcecado pela cidade e suas
necessidades, o elogio e a crítica – com erros ou acertos mas desprovidos de
intenções secundárias ou barganhas oportunistas – foram e serão sempre a nossa
marca. Nunca tivemos feitores. Foi assim que a Tribuna Feirense construiu a
credibilidade que é sua referência. Raridade em um ambiente tão comprometido.
Evidente que o tempo
está mudando o perfil dos leitores. E a internet é uma opção irreversível de
informação, algo que está levando o impresso, no mundo inteiro a um
encolhimento progressivo e fatal. Embora ainda falte ao formato digital a força
da materialidade, que ainda é assegurada pelo papel.
A Tribuna Feirense,
após 16 anos, suspende, nesta edição, a circulação de sua versão impressa, pelo
menos até o desenrolar dessa crise. Tenho a absoluta sensação do dever cumprido
até aqui. Sem ser jornalista de ofício, creio que não desonrei os que o são e
que não desrespeitei o manto majestoso que recobre a notícia produzida com
honestidade, seriedade e respeito ao leitor.
O jornal, iniciado por
Valdomiro Silva e amigos, em 1999, ao qual logo me associei, permitindo que
fosse transformado em diário, sempre ocupou um lugar único no cenário feirense.
Defendemos o interesse
coletivo da Sociedade; lidamos com os governos com absoluta transparência e sem
prejulgamentos; lutamos ardorosamente pelo patrimônio histórico, a cultura, a
preservação do meio ambiente – em especial das lagoas – educação eficiente e um
urbanismo voltado para as pessoas.
Defendemos a
liberdade, a garantia dos direitos individuais e não toleramos o autoritarismo.
Ousamos trazer a blogueira perseguida pela ditadura cubana, Yoani Sanchez, ao
Brasil – um furo mundial – e editamos, por vários anos, um Caderno de Cultura
de projeção nacional, que foi um marco em um momento em que a cultura feirense
não era pauta e se mostrava oculta e dispersa.
Nos últimos cinco
anos, toco sozinho o jornal, agora com a editoria de Glauco Wanderley. Creio
que cumpri meu dever com Feira. Tentei lhe dar algo, em retorno às
oportunidades que me deu, ainda que isso tenha me custado investimentos,
esforço pessoal e desgastes. Nunca obtive, nem pedi, qualquer vantagem pessoal
em nome do jornal e desafio a que provem o contrário. Fiz tudo o que foi feito
porque tenho, por dever, meu coração onde estão os meus pés.
Agora o barco não pode
mais ser remado. Agradeço a todos os colaboradores, agências, anunciantes,
assinantes, jornaleiros, jornalistas e equipe de produção, alguns conosco desde
a fundação. Não esquecerei as memoráveis noites de fechamento e a impressão
madrugada afora, na “francesinha” e o prazer incomparável da leitura na manhã
seguinte.
Confesso que não me
despeço do papel sem emoção. Todo fim amputa. Toda falta esvazia. Tudo que se
aparta dói. Parece-me que as 2.595 edições e os milhões de palavras impressas
são minha narrativa de sobrevivência, meu deslavado flerte com a
permanência.
No entanto, o ciclo
precisa se cumprir. Fico com a indelével memória e o registro atemporal dos
dias que vivi e que registramos em nossas páginas.
A Tribuna Feirense
continuará na plataforma digital e ampliará seu portal de notícias, pois já
gozamos na internet da credibilidade conquistada desde a nossa primeira edição,
em 1999.
Os colunistas
continuarão. E terão mais destaque na nova fase. Afinal, a opinião plural,
independente e livre sempre foi o nosso diferencial.
Continuaremos com o
mesmo compromisso com a verdade que nos trouxe até aqui. Estamos ao seu lado,
leitor. E ao lado da cidade. Contamos com a sua confiança e leitura neste novo
tempo.
Sigamos viagem!
Por: César Oliveira.
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